domingo, 7 de abril de 2013

Zé Gomes, o promotor, o ministro, o Caiado etc

Diário da Manhã
Carlos Alberto Santa Cruz
Um eleitor histórico de Marconi, desde os tempos do PMDB Jovem, comemorava eufórico, na feira da Vila Nova:


– Afinal, agora o Marconi traz para o governo um político de votos. O Zé Gomes, de Itumbiara, que tem quase todos os votos de lá e ainda os transfere a quem quiser. Aliás, poucos são os políticos de votos dentro do governo e podem ser contados nos dedos de uma das mãos: Célio Silveira, Roberto Balestra, Vilmar Rocha, Júlio da Retífica, Thiago Peixoto. Assim mesmo, nenhum deles ganhou eleição e sua cidade.


Os outros nunca perdem, porque nunca concorrem, nem a síndico. Só ganham, porque amanhecem no Diário Oficial com carro preto, motorista, status, celular zero 800, sem limites, linha direta com o governador e ainda bom salário, afora as diárias de viagens. E uns ainda dizem que não são políticos e não gostam de política. Têm mais medo do voto do que trombadinha da Rotam - falou eloquente esse eleitor qualificado que parece entender mais de política do que muitos secretários de Estado.


– Mas o Ministério Público Federal está querendo impedir que José Gomes seja presidente da Saneago, alegando ser ele ficha suja – provoquei-o, sem sequer saber o nome daquele animal político, que agora desceu de sua eloquência e veio quase coloquial


– O senhor sabe de que o Zé Gomes é acusado, não? Pois eu lhe digo: como deputado federal, ele contratou em seu gabinete os jogadores do Itumbiara Futebol Clube, os neguinhos das pontas de rua que fizeram a alegria do seu povo. Enquanto isto, os outros deputados nomearam amantes, genros parasitas, filhos inúteis de chefes políticos, que nunca trabalharam, ou até funcionários fantasmas, cujos salários vão parar no bolso do próprio deputado. No caso de Zé Gomes, me diga aí onde está a corrupção? Ele usou o dinheiro público em benefício próprio ou de apadrinhados? Não. O dinheiro foi destinado ao esporte, à alegria, ao lazer e à diversão da coletividade, do seu povo, o agradecido povo de Itumbiara que o tem como herói. Se todo deputado fizesse o que o Zé Gomes fez, o Brasil nem precisaria dessa Lei da Ficha Limpa, e o Vila Nova não estaria nesta situação – misturou as coisas e mostrou as acusações e a condenação que pesam sobre o ex-prefeito de Itumbiara.


  Logo depois, o Itumbiara Futebol Clube foi campeão goiano, não se tendo notícia de que ostentara o título antes ou depois. E Zé Gomes virou o dono de quase todos os votos da mais importante cidade do Sul goiano.


Desde antes ou desde sempre, ele tem uma biografia de excentricidades, já legendário como herói ou picaresco, a começar pela sua primeira eleição de vereador, quando tinha apenas l8 anos, e então nunca mais dormiu sem mandato, até janeiro último, aos 55 anos, quando passou a Prefeitura de Itumbiara a sucessor de sua confiança.


   É também marqueteiro perigoso, pois os gestos e atitudes que tiram votos dos outros, nele os votos se multiplicam. Chegou ao Congresso Nacional com um macaquinho no ombro e saiu na revista Veja; voltou para Itumbiara, bateu em num promotor de Justiça em público, correu atrás do oficial de  Justiça, que perdeu o mandado na carreira, e ainda rosnou: “Esse moleque já estava passando da idade de peia.”


Consta que era candidato a deputado, e de passagem pela cidade de Crixás, Zé Gomes viu placa de uma rádio comunitária. Chegou, se apresentou e logo estava no ar. Depois de cumprimentar o povo com o coração e derramar emoção sobre a cidade, passou a falar:


– “Esta á a Região dos Caiado. Aqui eles têm mais bois do que folhas de pau. Os Caiado não contam bois por números, eles contam por hora, passando na porteira, e vão anotando, por exemplo, duas horas e meia de bois, depois, chegam ao quantum. Mas, com tanto gado assim -continuou o deputado  –  eu quero aqui lançar um desafio ao povo desta região e, particularmente, às mães de famílias: eu estou aqui com R$ 1 mil , vinte notas de R$ 50 para dar a uma criança que tenha algum dia bebido leite de vacas dos Caiado. E continuou com o lenga-lenga, até que a rádio saiu do ar por queda de energia, mas ninguém compareceu. Zé Gomes foi embora, e deixou a cidade brigando e nunca mais voltou lá. Consta que na eleição foi o segundo mais votado.


 Antes de Iris perder eleições, uma atrás da outra, estava acima do bem e do mal, e sua vontade fazia o Parlamento tremer e até a espinha da Justiça vergar, Zé Gomes o debicou e dele fez pouco caso: em 1990, Iris Rezende tinha deixado o cargo de  ministro da Agricultura No ano anterior, Collor se elegera presidente e o deputado federal José Gomes foi o comandante em chefe de sua campanha vitoriosa em Goiás. O candidato do PMDB foi o dr. Ulisses Guimarães, com quem Iris rompeu, porque ia perder, para apoiar Collor, porque sabia que ele ia ganhar. No ano seguinte, inauguração do Conjunto Popular de Casas em Itumbiara, o ex-ministro foi convidado para a solenidade marcada para as 11h. Na véspera, o deputado Zé Gomes conseguiu a antecipação da inauguração do conjunto para 9h. Quando Iris chegou lá, as casas já tinham sido inauguradas e o ministro da área já tinha retornado a Brasília.


Tem ainda a sirene das ambulâncias e muitas estórias mais. Mas para frente que atrás vem gente.


Agora, o promotor federal Hélio Telho já intimou o governo de Goiás a não dar posse para José Gomes na presidência da maior empresa pública do Estado – Saneago. Acontece que o presidente da empresa não é nomeado nem empossado pelo governador, mas pelo Conselho da empresa.E consta que o ex-prefeito de Itumbiara já tomou posse.


Se o ex-prefeito de Itumbiara é raposa velha matreira, mais velhaco do eu jacu de tapera, o dr. Hélio Telho é também caça remosa. Ele é aquele promotor que denunciou e mandou para a cadeia Otoniel Machado, que depois disto, de vergonha e de desgosto, exalou. E ninguém mais ouviu falar nele ou dele.


A birra do promotor é porque José Gomes está condenado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), com recurso ao Supremo, acusado de contratar em seu gabinete, quando deputado federal, jogadores do Itumbiara Futebol Clube.


  O dr. Hélio Telho pode estar birrado com o ex-prefeito por razões técnicas, mas não morais. Judiciário é Judiciário e voto é voto. Mas os poderes são originários do voto popular e não este daqueles. E Lincoln nos ensinou que: “Um boletim de votos vale mais do que mil sentenças e é mais forte do que um tiro de espingarda.” Desde os 18 anos que Zé Gomes vive debaixo do manto do voto do mesmo povo, escorado em  37 longos anos de mandato popular, tempo para um promotor aposentar-se, sem nenhum voto, com proventos de quase 50 salários mínimos mensais.


   E ninguém é capaz de enganar o mesmo povo o tempo todo, pois o presidente americano, assassinado num teatro, torna a nos lembrar que: “Podeis enganar toda a gente durante um certo tempo; podeis mesmo enganar algumas pessoas todo o tempo: mas é impossível enganar toda a gente o tempo todo.”


Estão aí na Arena do Coliseu dois gladiadores peso pesado. De um lado, o dr. Hélio Telho, a toga, querendo crescer e aparecer, e do outro Zé Gomes, o voto, querendo mais votos.


Essa contenda lembra-me o começo da carreira do jornalista Assis Chateaubriand. Novinho, novinho, passara em primeiro lugar em concurso público para professor da Faculdade de Direito de Recife, deixando para trás causídicos famosos. Primeiro, enrolaram para mandar o seu nome ao ministro da Educação. Depois que mandaram, esperou, esperou e a nomeação nada. Resolveu inaugurar o estilo Chateaubriand que o acompanharia em sua fulgurante carreira de jornalista e dono da maior rede de comunicação do Brasil. Mandou de presente ao ministro da Educação uma caixa fechada, com a recomendação “confidencial e em mãos”, e dentro da caixa uma cascavel viva e junto com ela a advertência: “Dos métodos de luta da Paraíba, este é o mais ameno. Exijo nomeação já. Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo.”.A nomeação saiu no mesmo dia.


É bom lembrar ao dr. Hélio Telho que Zé Gomes não é a caixa de Chateaubriand. Ele é a própria cascavel. De palhada.


(Carlos Alberto Santa Cruz, jornalista)